Uma das situações que sempre serviu para que eu olhasse para o capitalismo de uma forma circunspecta e até mesmo apreensiva, foi a percepção de que o capitalismo era um sistema extraordinariamente injusto, onde por um lado havia as milhares de crianças que morriam diariamente à fome e por outro os excêntricos multimilionários que «nem sabiam o que haviam de fazer a tanto dinheiro que tinham» .
Vêm isto a propósito das viagens turísticas espaciais que a excêntrica empresa Virgin Galactic vai pôr em pratica já muito em breve. Como facilmente podemos deduzir, estas viagens não são nada baratas, custam a módica quantia de 150 mil Euros e por incrível que pareça já há quatro portugueses interessados num bilhete, sendo que existe já um, Mário Ferreira, empresário do norte de Portugal, que já têm a viagem confirmada.
Qual é a urgência?
Ora, numa altura, em que enfrentamos uma das maiores crises mundiais, numa altura em que existem ainda tantos problemas ontológicos e humanitários por resolver, numa altura em que há tantas doenças cuja sua cura carece de tanto investimento, não me parece possível aceitar com indiferença todos estes devaneios excêntrico/capitalistas. Mas mais grave ainda, é verificar que um País que se aproxima perigosamente da banca rota ou dos 11% de desempregados, ou ainda dos enormes índices de sida e tuberculose, seja bafejado pela noticia de que um dos primeiros excêntrico-viajantes que irão andar à volta da terra, por questões meramente turísticas, seja um empresário ( pagará bem ou explora?) imagine-se, Português. António Lage
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