sexta-feira, 23 de abril de 2010

O fado dos contentores


Agora que ficámos a saber que o Ministério Público avançou com uma acção no Tribunal contra a A.P.L. e a Liscont para obter a anulação do contrato relativo aos contentores de Alcântara, assinalamos a circunstância com um poema alusivo de Manuel Alegre, 

O FADO DOS CONTENTORES

Já ninguém parte do Tejo
Para dobrar bojadores
Agora olho e só vejo
Contentores contentores.

E do Martinho Pessoa
Já não veria o vapor
Veria a sua Lisboa
Fechada num contentor.

Por mais que busques defronte
Nem ilhas praias ou flores
Não há mar nem horizonte
Só contentores contentores.

Lisboa não tem paisagem
Já não há navegadores
Nem sol nem sul nem viagem
Só contentores contentores.

Entre o passado e o futuro
Em Lisboa de mil cores
O sonho bate num muro
De contentores contentores.

Por isso vamos cantar
O fado das nossas dores
E com ele derrubar
O muro dos contentores.

Manuel Alegre, 04.03.2009.

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